Um filme para Amadeo, antes da homenagem em Paris
Grand Palais inaugura na próxima semana uma retrospetiva com mais
de 300 obras do pintor Amadeo de Souza Cardoso. Já esta quarta-feira,
13, é exibido um documentário inédito na Gulbenkian, em Lisboa.
Não é a primeira grande exposição internacional sobre Amadeo de Souza Cardoso, mas marca o regresso do pintor português à cidade onde viveu entre 1906 e 1914. Foi, aliás, no Grand Palais, em Paris, onde a nova exposição será inaugurada a 20 de abril, que Amadeo fez a última apresentação francesa – em 1912.
A exposição é organizada pelo Grand Palais e pela Fundação Calouste Gulbenkian, que assinala 50 anos de presença na capital francesa. Serão exibidos mais de 300 objetos do artista, entre pinturas, desenhos, fotografias e gravuras. Inclui algumas criações inéditas, como uma colagem recém-descoberta.
O título da mostra é simplesmente Amadeo de Souza Cardoso (1887-1918). Porque,
como explica a curadora, Helena de Freitas, o artista “não é o
conhecido dos franceses e torna-se importante fazer essa afirmação de
identidade através do título”.
É uma tentativa de reabilitar um pintor português que morreu aos 30 anos e ficou esquecido pelos historiadores. Amadeo foi vítima da Gripe Espanhola, uma pandemia maque se calcula ter dizimado 50 milhões de pessoas entre 1918 e 1920.
E há um outro contributo para esta reabilitação vem do realizador luso-francês Christophe Fonseca, que assina o documentário Amadeo de Souza Cardoso: O Último Segredo da Arte Moderna.
O filme não faz parte da exposição propriamente dita, mas integra a programação paralela. Entretanto, terá antestreia em Lisboa, esta quarta-feira, às 18h30, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian – com entrada livre. E passa na RTP 1, dia 20, a seguir ao Telejornal.
“Simbolicamente, é muito importante ter um documentário em horário nobre na televisão portuguesa”, analisa Christophe Fonseca. “Não sou elitista, pelo contrário, gosto de chegar ao maior número de pessoas possível e não me agradaria fazer filmes para serem vistos por três pessoas”, acrescenta.
Amadeo de Souza Cardoso: O Último Segredo da Arte Moderna tem a duração de 52 minutos e é uma coprodução da RTP e da congénere pública France Televisions. A rodagem demorou cerca de seis meses e decorreu na vila de Manhufe, concelho de Amarante, onde o pintor nasceu, assim como nas cidades em que passou vários anos: Paris, Nova Iorque e Chicago.
Trata-se, essencialmente, de um documentário televisivo, de
estética “sóbria e elegante”, com depoimentos e narrativa cronológica.
“Apresentamos a biografia dele, que é sensacional, assemelha-se a um
filme de ação, e ao mesmo tempo acompanhamos a pesquisa e o restauro de
algumas obras dele, o que homenageia os historiadores, incluindo a
curadora Helena de Freitas, que trabalham na sombra e juntam as peças do
puzzle da obra dele.”
Filho de portugueses, Christophe Fonseca nasceu há 39 anos nos arredores de Paris e sente enorme fascínio pela cultura portuguesa. Trabalha para vários canais franceses como realizador de documentários. É fundador da Imagina Produções, juntamente com Duarte Neves e Ruben Alves, realizador do filme A Gaiola Dourada (2013), um êxito de bilheteira sobre portugueses emigrados em França.
“Já fiz mais de 40 documentários e tento sempre dar um toque português, nem que seja na escolha da música, é uma luta pessoal para tentar divulgar a cultura portuguesa além-fronteiras”, afirma, em conversa telefónica com o Observador.
“Fiquei fascinado pela obra de Amadeo, mas sobretudo pela vida dele, por se ter apresentado em Paris, aos 19 anos, sem nenhum complexo de inferioridade, com um profundo respeito pela cultura do país dele e sem abdicar da sua singularidade como artista. Nunca aderiu a nenhum movimento artístico, guardou sempre a sua independência”, sublinha Christophe Fonseca.
O documentário será igualmente exibido no próximo sábado, 16, no Museu Municipal Amadeo de Souza Cardoso, em Amarante, e mais tarde, a 8 de maio, no canal France 5.
Quanto à exposição no Grand Palais, está dividida por dois pisos, num espaço museológico que a curadora descreve como “bastante fragmentado”. No primeiro piso, são apresentadas obras e objetos desde o início da carreira de Amadeo até ser obrigado a sair de Paris e voltar para Portugal, por causa da I Guerra. No segundo piso, a fase de 1914 até à morte do artista.
Salvo esta divisão temporal, o percurso pelos mais de 300 objetos não está organizado de forma cronológica, porque a vida de Amadeo também não foi linear. “É um jovem com forte sentido experimental, nervoso e excitado na sua pesquisa artística, incapaz de se concentrar num só trabalho”, explica Helena de Freitas. “Ele próprio dizia que tinha mais fases do que a Lua.”
Além das obras do pintor, a mostra inclui informações biográficas e de contexto, citações soltas e muitas fotos:
Espera-se, no entanto, que esta tenha grande repercussão. O Grand Palais fica nos Campos Elísios, zona emblemática de Paris, e é visitado por muitos turistas, além de ter um público francês fiel. São mais de dois milhões de visitantes por ano.
Além disso, a exposição inclui uma “pequena colagem” nunca antes apresentada em público, descoberta há poucos meses na casa da família, em Amarante, e ainda um tríptico em vídeo do artista Nuno Cera, que revisita as paisagens da vida de Amadeo.
Considerado um “artista plural”, o pintor português foi amigo dos consagrados Brancusi, Modigliani e Robert e Sonia Delaunay, mas nunca deixou de procurar voz própria.
“Não é um artista simples”, analisa Helena de Freitas. “Teve muitos caminhos na sua pesquisa e é essa diversidade que faz a sua força e singularidade. Viveu no centro das vanguardas do seu tempo, esteve em Paris no centro das ruturas artísticas e dos movimentos que procuravam formas novas, mas era muito culto, tinha uma formação literária e visual muito forte, e, talvez por isso, tinha consciência de querer fazer outra coisa que fosse só dele. Dizia-se cubista, impressionista, futurista e abstracionista, mas depois afirmava que nenhuma escola lhe interessava.”
A exposição é organizada pelo Grand Palais e pela Fundação Calouste Gulbenkian, que assinala 50 anos de presença na capital francesa. Serão exibidos mais de 300 objetos do artista, entre pinturas, desenhos, fotografias e gravuras. Inclui algumas criações inéditas, como uma colagem recém-descoberta.
É uma tentativa de reabilitar um pintor português que morreu aos 30 anos e ficou esquecido pelos historiadores. Amadeo foi vítima da Gripe Espanhola, uma pandemia maque se calcula ter dizimado 50 milhões de pessoas entre 1918 e 1920.
E há um outro contributo para esta reabilitação vem do realizador luso-francês Christophe Fonseca, que assina o documentário Amadeo de Souza Cardoso: O Último Segredo da Arte Moderna.
O filme não faz parte da exposição propriamente dita, mas integra a programação paralela. Entretanto, terá antestreia em Lisboa, esta quarta-feira, às 18h30, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian – com entrada livre. E passa na RTP 1, dia 20, a seguir ao Telejornal.
“Simbolicamente, é muito importante ter um documentário em horário nobre na televisão portuguesa”, analisa Christophe Fonseca. “Não sou elitista, pelo contrário, gosto de chegar ao maior número de pessoas possível e não me agradaria fazer filmes para serem vistos por três pessoas”, acrescenta.
Amadeo de Souza Cardoso: O Último Segredo da Arte Moderna tem a duração de 52 minutos e é uma coprodução da RTP e da congénere pública France Televisions. A rodagem demorou cerca de seis meses e decorreu na vila de Manhufe, concelho de Amarante, onde o pintor nasceu, assim como nas cidades em que passou vários anos: Paris, Nova Iorque e Chicago.
O filme pretende dar um reconhecimento mundial ao artista, por isso entrevistámos especialistas do mundo inteiro, não queríamos um filme de portugueses sobre um português”, explica Christophe Fonseca. “Alguns entrevistados acabaram por dizer que a história da arte tem de ser reescrita, porque Amadeo teve um papel essencial e tem sido subvalorizado.”
Filho de portugueses, Christophe Fonseca nasceu há 39 anos nos arredores de Paris e sente enorme fascínio pela cultura portuguesa. Trabalha para vários canais franceses como realizador de documentários. É fundador da Imagina Produções, juntamente com Duarte Neves e Ruben Alves, realizador do filme A Gaiola Dourada (2013), um êxito de bilheteira sobre portugueses emigrados em França.
“Já fiz mais de 40 documentários e tento sempre dar um toque português, nem que seja na escolha da música, é uma luta pessoal para tentar divulgar a cultura portuguesa além-fronteiras”, afirma, em conversa telefónica com o Observador.
“Fiquei fascinado pela obra de Amadeo, mas sobretudo pela vida dele, por se ter apresentado em Paris, aos 19 anos, sem nenhum complexo de inferioridade, com um profundo respeito pela cultura do país dele e sem abdicar da sua singularidade como artista. Nunca aderiu a nenhum movimento artístico, guardou sempre a sua independência”, sublinha Christophe Fonseca.
O documentário será igualmente exibido no próximo sábado, 16, no Museu Municipal Amadeo de Souza Cardoso, em Amarante, e mais tarde, a 8 de maio, no canal France 5.
Quanto à exposição no Grand Palais, está dividida por dois pisos, num espaço museológico que a curadora descreve como “bastante fragmentado”. No primeiro piso, são apresentadas obras e objetos desde o início da carreira de Amadeo até ser obrigado a sair de Paris e voltar para Portugal, por causa da I Guerra. No segundo piso, a fase de 1914 até à morte do artista.
Salvo esta divisão temporal, o percurso pelos mais de 300 objetos não está organizado de forma cronológica, porque a vida de Amadeo também não foi linear. “É um jovem com forte sentido experimental, nervoso e excitado na sua pesquisa artística, incapaz de se concentrar num só trabalho”, explica Helena de Freitas. “Ele próprio dizia que tinha mais fases do que a Lua.”
Além das obras do pintor, a mostra inclui informações biográficas e de contexto, citações soltas e muitas fotos:
Ele gostava muito de se fotografar, não podemos dizer que fossem selfies, mas era quase a mesma lógica”, ironiza a curadora. “Como ele não é conhecido em França, é importante dar-lhe voz, incluir frases e fotos dele, o que oferece aos visitantes ferramentas de compreensão.”A mesma responsável não se refere à retrospetiva como a maior de sempre e nota que Amadeo já foi alvo de várias exposições internacionais “muito importantes”, nos EUA, na Rússia e na Alemanha. E mesmo em Paris, há mais de meio século.
Espera-se, no entanto, que esta tenha grande repercussão. O Grand Palais fica nos Campos Elísios, zona emblemática de Paris, e é visitado por muitos turistas, além de ter um público francês fiel. São mais de dois milhões de visitantes por ano.
Além disso, a exposição inclui uma “pequena colagem” nunca antes apresentada em público, descoberta há poucos meses na casa da família, em Amarante, e ainda um tríptico em vídeo do artista Nuno Cera, que revisita as paisagens da vida de Amadeo.
Considerado um “artista plural”, o pintor português foi amigo dos consagrados Brancusi, Modigliani e Robert e Sonia Delaunay, mas nunca deixou de procurar voz própria.
“Não é um artista simples”, analisa Helena de Freitas. “Teve muitos caminhos na sua pesquisa e é essa diversidade que faz a sua força e singularidade. Viveu no centro das vanguardas do seu tempo, esteve em Paris no centro das ruturas artísticas e dos movimentos que procuravam formas novas, mas era muito culto, tinha uma formação literária e visual muito forte, e, talvez por isso, tinha consciência de querer fazer outra coisa que fosse só dele. Dizia-se cubista, impressionista, futurista e abstracionista, mas depois afirmava que nenhuma escola lhe interessava.”