Numa entrevista conduzida recentemente pelo renomado jornalista Markus Lanz para o canal alemão de televisão ZDF (pode ser vista na Mediathek da ZDF, é uma das últimas), Ricarda Lang, deputada e vice-presidente do partido “Os Verdes”, é confrontada (e parece uma zombie ao ouvir o rol de despilfarro) com uma lista de gastos financiados pelos contribuintes alemães um pouco por todo o mundo.
Felizmente (ou infelizmente, depende do ponto de vista…) o entrevistador excluiu os países da UE, pelo que não ficamos a saber o que é que os nossos amigos contribuintes alemães financiam nestas mesmas categorias (ou similares) em Portugal…
Ao menos sabemos que os contribuintes portugueses irão canalizar 34 milhões de euros para financiar a reabilitação do Museu de Libertação Nacional de Angola, onde o colonialismo português (preferido por todos os angolanos inquiridos na rua, quando comparado com o estado de miséria absoluta em que vivem) certamente será mostrado no seu esplendor positivo.
Então vamos a isso, aos gastos solidários dos contribuintes alemães por esse mundo fora:
- 300 milhões de euros para a construção de carris de bicicletas no Peru (onde ninguém que tenha amor à vida circula naquele trânsito caótico de bicicleta)
- 600.000 euros para a “promoção da tolerância na Indonésia”
- 6.000.000 de euros para a “promoção da proteção ambiental na Albânia”
- 260.000 euros para “apoio a pequenos produtores de cacau em África”
- 10.000.000 para “silvicultura no Congo”
- 500.000 euros para a “promoção de masculinidade positiva no Ruanda”
- 500.000 euros para o “desenvolvimento de iniciativas eco-feministas na África do Sul”
A Alemanha é um pais rico, mas que está a atravessar uma fase histórica crucial e crítica na sua tentativa de se manter como o motor tecnológico e industrial da Europa, devido à concorrência crescente de países asiáticos que, na sua atividade industrial e comercial, não estão submetidos às mesmas regulamentações e condicionantes de Corporate Governance que emanam de Bruxelas.
Estes países, que até há bem pouco tempo atrás invadiam os nossos mercados com quinquilharia e pechisbeques baratos (quem não se lembra do alicate chinês comprado por 1 euro, que partia logo na primeira utilização, ou da chave de parafusos de 50 cêntimos que, logo na primeira utilização, ficava com a ponta torcida ?), estão agora a invadir os mercados europeus e americanos com produtos de ponta, tecnologicamente avançados, inovadores, com qualidade nos materiais e acabamentos, com design arrojado e desempoeirado, muito ao gosto dos consumidores locais, e…. oh milagre dos milagres, a um preço 30 0/0 a 40 0/0 inferior ao dos produtos comparáveis produzidos por fabricantes europeus ou americanos (talvez seja essa a margem do Compliance e do Governance a que não estão sujeitos quando produzem nos seus países).
O caso mais paradigmático e gritante é o do mercado automóvel, onde os europeus e os americanos já perderam a corrida. Há situações na vida que nos abrem os olhos num click. E o que me fez a mim ver a realidade foi quando um primo meu, que toda a vida conduziu carros alemães de topo, e perorava contra os fabricantes de “latas” chineses, um destes dias parou um flamante SUV BYD (creio) eléctrico à minha porta, que tinha acabado de ser trocado pela Audi Q5. Audi Q5 bem usado por equiparável chinês novo. E estava fascinado. Fiquei de queixo caído, e foi quando fui ver melhor aquilo a que nos enfrentamos. Assustador, porque está aí, cristalino diante dos nossos olhos, e não nos damos conta. Faz-me lembrar a história do sapo. Se se colocar um sapo numa panela de água tépida, e se for aquecendo a água gradualmente, o sapo vai-se adaptando ao aumento da temperatura, até que já não consegue reagir, e morre. Se se atirar um sapo para um caldeirão de água a ferver, ele salta e salva-se.
Os europeus estão acomodados na panela de água tépida, e a classe política que hoje vemos por aí a gerir os destinos dos nossos países, pela primeira vez no pós-guerra (em Portugal pela primeira vez em 50 anos de democracia), está já composta só e apenas por gente que nunca trabalhou fora dos corredores da política, e que não tem qualquer tipo de conhecimento ou ligação ao país real.
Este é o caldo de cultivo ideal para o florescimento de ideologias populistas radicais, que dão voz ao pensamento que um crescente número de eleitores não tem coragem de expressar por si próprio, e cujos anseios e temores não vê refletido nos programas dos partidos tradicionais que surgiram no pós-guerra (em Portugal no pós-25 de Abril de 1974).
2024 vai ser um ano fascinante (e muito perigoso). Eleições europeias, eleições em Portugal (e nos Açores, já no mês que vem), eleições nos EUA. Um ano decisivo que vai marcar o futuro de milhões de pessoas, em muitos casos de forma dificilmente reversível, caso nos enganemos na bússola.
Por isso o meu pedido encarecido a todos aqueles que consigo contactar através das redes sociais em que participo tem sido, inexoravelmente e irredutivelmente : Estudem, analisem, pensem, e VOTEM pelo que vos é mais sagrado na vida !
José António de Sousa