Friday, January 19, 2024

Polémica no V

 


Polémica no V Congresso dos Jornalistas

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Olá Jorge Cardoso,

A lista é grande e inclui o Grupo Brisa, a REN, a NOS, os bancos Santander e Millennium BCP, a Mota-Engil, a Google, a Mercadona, a Delta, a seguradora Fidelidade, a KIA, a Xerox, a IKEA e a Fundação Oriente. Estes são alguns dos 'patrocinadores' e 'apoiantes' do V Congresso dos Jornalistas, evento que começou esta quinta-feira, em Lisboa.

Ao contrário do que alguns querem fazer crer, a grave crise que se vive nos media não é meramente financeira ou de modelo de negócio. A prova disso está nas polémicas existentes em torno deste V Congresso. 

A grave crise que existe no sector é, sim, uma grave crise de valores, princípios e ética, tendo deixado de haver qualquer pudor e respeito pelo Estatuto dos Jornalistas, pelo Código Deontológico e pela Lei da Imprensa. A grave crise reside, sim, na constante e óbvia promiscuidade entre grande parte do sector dos media e o poder político e económico.

Além dos 'apoios' de empresas e bancos, a organização deste congresso aceitou patrocínios de entidades públicas. Todos os patrocinadores e apoiantes do evento, com a excepção de uma entidade, encontram-se fora da esfera da comunicação social.

Acresce que os contornos (incluindo valores) desses patrocínios são desconhecidos. 


Lá se foi, em definitivo, a imagem de isenção e a reputação de toda uma classe.

Depois, a organização cobra 'entrada' aos jornalistas que apenas queiram cobrir o evento, em termos noticiosos, o que viola o Estatuto dos Jornalistas.

Mas faltava ainda a 'cereja no topo do bolo' e surgiu esta quinta-feira, na forma de uma decisão do regulador dos media. A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (talvez para não deixar ficar mal a organização do Congresso dos Jornalistas) decidiu que... é perfeitamente normal que se peça dinheiro a jornalistas para cobrirem eventos. Leu bem. Está aberta a caixa de Pandora!

Pode ler os detalhes em torno de todas estas polémicas que envolvem o V Congresso dos Jornalistas na notícia 
'Inédito: Regulador dos media diz ser aceitável exigir pagamento a jornalistas para cobrirem eventos públicos'.

Repare que não se trata de jornalistas que pretendem assistir ou participar no congresso, mas simplesmente fazer o seu trabalho de cobrir o mesmo para a elaboração de notícias.

Não se trata aqui de jornalistas ou meios de comunicação social poderem 'poupar' o valor da inscrição (20 euros), mas sim o princípio de que um jornalista, se precisar ou quiser cobrir um evento, mesmo que seja público, pode ser forçado a ter de pagar... 20 ou 100 euros ou mais. O que a entidade organizadora quiser!

Acresce que a ERC se esqueceu de um detalhe: os jornalistas que se inscreverem no congresso e pagarem os tais 20 euros, ficam automaticamente impedidos pelo Código Deontológico de cobrirem o evento, em termos noticiosos. Isto porque o Código refere que "
o jornalista não deve valer-se da sua condição profissional para noticiar assuntos em que tenha interesse"

Para saber o que está em causa em todo este escândalo, recomendo ainda a leitura do Editorial de Pedro Almeida Vieira 'Jornalismo: o meu reino não é deste mundo'.

Todos estes acontecimentos provam também que uma parte da classe jornalística em Portugal vive fechada numa 'bolha', num 'clube' que almoça diariamente com o poder político e económico, sem ter noção que é promíscua e que se tornou, ela própria, num problema grave para a sustentabilidade do sector e para a sobrevivência do Jornalismo e da Democracia.

Outro dado que comprova a espiral de decadência em que se encontra o sector, é a actuação da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ).

Depois de diversas falhas graves, como a de não abrir processos disciplinares e proteger, assim, jornalistas (nomeadamente, editores e directores) promíscuos, a CCPJ decidiu abrir um segundo processo disciplinar a Pedro Almeida Vieira, acusando, desta vez, o director do PÁGINA UM de ter feito 
"acusações sem provas sobre a atuação da ERC e da IURD [Igreja Universal do Reino de Deus]". 

Acontece que as duas notícias em causa, escritas por Pedro Almeida Vieira, tiveram origem... numa deliberação da própria ERC de 30 de Agosto. É ler os detalhes para crer.

Aproveito esta Newsletter para convidar à leitura do artigo 'Mariana Maria, só', na rubrica 'Caderno dos Mundos', do conceituado jornalista Rui Araújo.

Há também nova análise de um dos cartazes dos partidos para as eleições legislativas. Desta vez
, Sara Battesti, analisa o cartaz do PSD: 'Unir Portugal'.

Esta semana, Maria Afonso Peixoto escreve sobre 'O ‘Governo’ de Davos e as vidas de oito mil milhões'. Quanto a Mariana Santos Martins, presenteou-nos com a crónica 'Porto: crónica dos lugares'.

Não podia terminar esta Newsletter sem mencionar o nosso Boletim P1 diário de contratação pública, onde pode consultar os maiores contratos por ajuste directo feitos com o dinheiro de todos nós.

Voltarei aqui amanhã com um resumo das nossas mais recentes publicações.

Até lá, convido a visitar a página do seu jornal para estar a par das novidades. Pode ainda, se quiser, convidar amigos e familiares a subscreverem gratuitamente esta Newsletter.  

Boa sexta-feira.

Elisabete Tavares  

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