Passeios fotográficos que procuram outro Porto
Primavera Lima é uma artista plástica e fotógrafa que decidiu revelar novos pontos de vista do Porto: são "portos de vista". Em Janeiro, concretizou o projecto que vinha amadurecendo há meses, de levar grupos de pessoas a fazer safaris fotográficos na cidade, a ver o Porto através da lente.
Baptizado Port of View, o serviço foi a concretização do desejo, que depressa se tornou necessidade, que Primavera Lima sentia de partilhar as imagens que via nos passeios que fazia sozinha, logo pela manhã. "Vejo muitos estrangeiros perdidos, de mapinha na mão, a passear por estas ruas", diz, acrescentando que achou boa ideia "mostrar-lhes um Porto menos "glamoroso" mas que também está lá, com pormenores e histórias recambolescas" só acessíveis a quem se embrenha por outros caminhos. O trabalho de Primavera Lima está todo ligado à fotografia, mas divide-se entre o Porf of View e as exposições na Galeria Vantag.
Num destes dias, às 9h30, em frente ao Centro Português de Fotografia, o Porto mostrava-se cinzento. Mas "com uma boa luz para tirar fotografias e uma temperatura ideal para quem tem de andar muito", comenta quem sabe. O percurso programado chama-se Arte e Sereias e desce por ruelas que se entrelaçam até à Alfândega, a partir de onde se inicia uma escalada que acaba na Casa Tait, também conhecida por Quinta do Meio, vizinha da Quinta da Macieirinha.
Os participantes não eram turistas, mas portuenses. Em comum tinham o desejo de aprender mais sobre a cidade por onde andam diariamente, mas sem atenção às suas muitas particularidades. Joana, que ofereceu aos pais um voucher, para fazerem este passeio com ela, conta que, quando está de férias, nem sempre vai para o estrangeiro, aproveitando então para conhecer melhor o seu próprio país e a sua cidade. Já fez percursos semelhantes e elogia o serviço, que considera divertido e informativo. A escritora Zilda Cardoso, autora de A Rua do Paraíso, sobre uma das artérias do Porto, é mais uma curiosa pela cidade onde nasceu. Prefere estes passeios às visitas conduzidas por guias tradicionais que, diz, "providenciam informação muito estereotipada".
Primavera Lima conta que há visitas que se prolongam, porque há pessoas que param mais tempo para fotografar, sobretudo se são fotógrafos profissionais, que se demoram nos sítios para deixarem a máquina dialogar com a cena. Esta "guia" não se deixa pressionar pelos ponteiros do relógio, e procura "deixar as pessoas à vontade". "Eu não entro nos monumentos durante as visitas, mas há pessoas que se cruzam com uma igreja, por exemplo, e têm vontade de entrar. Deixo-as à vontade, não as posso estar sempre a apressar".
A fotógrafa diz ter muitas inscrições e que estas visitas costumam merecer comentários positivos. Começa, aliás, a pensar em expandir o Port of View para outras regiões do Norte, contando para o efeito com a ajuda de um amigo que fará o mesmo tipo de visitas além das fronteiras do Porto e de Gaia.
Para Primavera Lima, estes percursos com pessoas de diferentes idades e contextos têm resultado num "encontro entre amigos", que proporciona um "intercâmbio de culturas fascinante". A informalidade que está na base do conceito do Port of View leva-a a dizer que não concorre com os guias-intérpretes, que fazem um tipo de visita "completamente diferente". O Port of View não são visitas turísticas, mas sim passeios com conversa à mistura, que funcionam em grupos até seis ou sete pessoas, para manter o ambiente intimista, argumenta.
Há sete percursos disponíveis mediante marcação que custam entre dez euros a 15 euros por pessoa, com direito a recibo. O preferido, "talvez pela forte componente da natureza", diz Primavera, é o Antes do pôr-do-sol, que acontece entre o Porto e Gaia, passando pela reserva do estuário do Douro. Há por aí muito Porto. S.C.
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